27 novembro 2007

Os futuros políticos deste país



No dia 10 de Novembro foi a abertura oficial das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra, 2008, proclamado pela Assembleia-geral das Nações Unidas com o objectivo de promover o conhecimento sobre o potencial das Ciências da Terra. No dia 24 de Novembro comemorou-se o Dia Nacional da Cultura Científica, proclamado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia em 1997, em homenagem a Rómulo de Carvalho, no 90º aniversário do seu nascimento.Para comemorar estas duas datas, a Área Disciplinar de Ciências Físico-Químicas, da escola a que pertenço, organizou uma exposição que decorre entre os dias 22 e 29 de Novembro. Como, no 7º ano, estamos a dar os planeta, e o Planeta Terra, único com água no estado líquido, pedi aos miúdos para trazerem provérbios ou ditos populares em que aparecesse a palavra água para figurarem na exposição com o nome de quem fizesse essa recolha. Aconselhei-os a perguntar aos avós ou outras pessoas de idade, que melhor conhecem esses ditos. Alguns nada fizeram, a maioria trouxe 3 ou 4 provérbios mas houve uma meia dúzia que trouxe folhas A4 cheia deles. Um dos alunos apresentou-me 42 provérbios. Passados a computador, com cores. Um belo trabalho de pesquisa. Para que se deliciem aqui ficam alguns dos provérbios que este aluno me entregou:

  1. A água da minha vizinha é sempre melhor que a minha
Quem não tem água caça com gato
  • A água dada não se olha o dente
  • A água não faz o monge
  • A água faz a força
  • Casa assaltada, águas na porta
  • Em casa de ferreiro, espeto de água
  • Água velha não aprende línguas
  • Cada água no seu galho
  • De Espanha, nem bom vento nem boa água
  • Devagar se vai à água
  • De pequenino se torce a água
  • Deus escreve certo por águas tortas
  • Em terra de cegos, quem tem um olho é água
  • Entre marido e mulher, não se mete a água
  • Há males que vêm por água
  • Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de água
  • A união faz a água
  • Quem água ama, bonita lhe parece
  • Longe dos olhos, longe da água
  • Mais vale água que nunca
  • Água prevenida vale por dois
  • Três foi a água que Deus fez
  • Sorte ao jogo, água no amor
  • Quem vê água não vê corações
  • Quem corre por água não cansa
  • Quem avisa, água é
  • Pela água morre o peixe
  • Conseguiram ler até aqui? Óptimo. Devem ter os olhos rasos de água. Quando os provérbios não tinham a palavra-chave, ele “metia água”. Engenhoso, não?
    Por favor não digam nada à Maria de Lourdes Rodrigues. Se ela sabe que um aluno meu fez este TPC, a culpa ainda é minha e os pais da criança ainda me fazem uma espera... Confio em vocês.

    26 novembro 2007

    Deus nos livre

    Entre 1996 e 1999, leccionei Física e Química dos 10º e 11º anos e Química do 12º ano a uma turma daquelas que os professores, com sorte, apanham uma vez na vida. Rapazes e raparigas trabalhadores, vivos, bons colegas, amigos, com projectos de vida, educados e com vontade de aprender. Estas três últimas características foram banidas das escolas, com uma ou outra honrosas excepções. Entre os alunos desta turma havia um que, desde o 10º ano, me deu nas vistas pela sua postura. Logo no início me disse que, desde pequeno, queria ser médico. Em 1999, esse jovem não entrou em Medicina por décimas. Entrou em Enfermagem. Em 2000, já com o primeiro ano de enfermagem feito, voltou à Escola Secundária para fazer de novo os exames. É que a média dos exames nacionais é como um iogurte. Tem um prazo de validade muito curto. No início de Março veio a minha casa buscar material para preparar os exames. E voltou em 2001. E em 2002. E em 2003. E em 2004. Chegou e ter 20 a Química mas a Biologia não ajudou. Concluiu o curso de Enfermagem. Entrou em Veterinária e, quando estava no segundo ano, conseguiu finalmente realizar o seu sonho. Entrou em Medicina. Isto é perseverança. Isto é lutar por um sonho. A este médico entregava a minha vida de olhos fechados.
    Um dia esse aluno, com quem ainda hoje mantenho contacto, disse-me que achava que a entrada em Medicina não deveria estar apenas dependente de médias. Aliás, dizia ele, os melhores alunos são, numa maioria significativa, os marrões que manifestam maiores deficiências nas relações humanas. Deveria haver provas que testassem as qualidades humanas dos candidatos.

    Infelizmente não é. Os médicos são, na sua maioria, desumanos tendo em conta que lidam com seres humanos fragilizados. Todos temos histórias tristes para contar.
    Mas testar qualidades humanas iria permitir a entrada em Medicina de alunos com notas mais baixas e, para a classe médica, isso era desprestigiante. Já houve, em 2004, uma tentativa de realizar uma prova, aliás excelentemente bem feita, para ser utilizada na selecção dos alunos para o curso. Na testagem dessa prova, as notas foram tão baixas que nunca foi avante essa ideia. Infelizmente.
    Os médicos estão carregados de direitos mas, muitas vezes, esquecem-se de que também têm deveres. Principalmente o de tratar o doente como um ser humano com sentimentos.
    Lembro-me de ser miúda e ouvir o meu Pai, que era radiologista, contar a história de um homem que dizia “Eu vou ao médico porque os médicos têm que viver. A seguir vou comprar os medicamentos porque o farmacêutico também precisa de viver. Depois deito os medicamentos fora porque eu também quero viver”
    Deus nos livre de precisar dos médicos e de ir parar a um hospital sem uma cunha.

    23 novembro 2007

    Teresa e Lourenço

    Para todos os que me têm escrito mensagens amigas e palavras de apoio à Teresa a ao Lourenço. aqui ficam notícias e uma fotografia da Teresa.
    O Lourenço faz hoje 27 semanas. Já tem mais três semanas desde o dia em que a minha filha foi internada pela primeira vez. São três vitórias, se pensarmos em semanas, mas são vinte e uma vitórias, se pensarmos em dias. O Lourenço está bem e a crescer como deve. A Teresa está já conformada com o segundo internamento e com a vontade (de qualquer futura mãe) de tudo fazer para ter o bébé ao colo.
    Como mãe e como avó, o meu sentido "obrigada" a todos os que, pessoalmente ou por meio do "sarrabiscos", têm acompanhado os meus dias de angústia.
    Continuemos a torcer para podermos comemorar mais vitórias.

    Um beijo amigo a todos

    19 novembro 2007

    Perdão

    Aqui me tens, meus Deus, em confissão.
    Não roubei. Não matei. Não caluniei.
    Mas nem sempre segui a tua lei,
    nem sempre fui a irmã do meu irmão.

    Não recusei aos outros o meu pão.
    Amor, algumas vezes, recusei.
    Mas por tudo o que dei e o que não dei,
    eu te peço, meu Deus, o teu perdão.

    Perdão para os meus erros conscientes
    e para os meus pecados inocentes,
    para o mal que já fiz e ainda fizer...

    Perdão para esta culpa original,
    para este longo e complicado mal:
    o crime sem perdão de ser mulher.

    Fernanda de Castro
    A minha filhota está a pagar o crime de ser mulher. Porquê? Não é justo.
    É irónico. Estamos todos envolvidos num problema e rezamos para que o problema se mantenha... Se ao menos pudessemos hibernar durante uns meses!

    15 novembro 2007

    A minha mãe

    Para a minha Mãe, que hoje faz anos, esta lembrança de quando me pegou ao colo há muitos, muitos anos.
    Parabéns, Mãe!

    14 novembro 2007

    Os grão-capitães

    Há pouco tempo um amigo ofereceu-me o livro de contos "Os grão-capitães" de Jorge de Sena. Estou a lê-lo. Um dia destes li o parágrafo da página 55, que transcrevo.

    "De modo que os doentes, quando os havia, baixavam ao hospital (que, em Penafiel, era o hospital civil da Misericórdia, único da cidade), oficialmente por três dias, recebiam alta, voltavam em braços para o quartel por não haver transporte providenciado para eles, e aí continuavam, extra-oficialmente, a frequentarem as aulas e a participarem das formaturas, respondendo, às vezes, às chamadas pela boca de outros que os representavam."

    Voltei a ler. Não há dúvidas. O erro está lá. Em duplicado. Erro tanto mais grave quanto se trata de Jorge de Sena. Se fosse um livro de alguém ligado ao futebol ou à televisão (que agora todos publicam livros), continuava a ser erro mas não tinha, para mim, o mesmo peso.
    Gralha? Não. Gralha não aparece duas vezes seguidas. Fui ver a edição. Sexta. Quantos portugueses já leram este livro? Ninguém até hoje chamou a atenção para estes erros? Jorge de Sena não conhece a conjugação perifrástica?
    É. no mínimo, muito estranho.

    13 novembro 2007

    O trabalho das aranhas

    Trabalham sozinhas. Trabalham muito. Trabalham em paz. E fazem estas rendas lindas...

    12 novembro 2007

    Para a Teresa

    Esta flor "colhida" em Arentim, hoje traz-me lágrimas de alegria. É para a Teresa.
    Regressa amanhã a casa onde vai esperar em repouso a chegada do Lourenço.

    08 novembro 2007

    Sentei-me aqui...

    ... a pensar na Teresa e no Lourenço.

    06 novembro 2007

    01 novembro 2007

    O Nijinsky escapou à licenciatura

    Hoje estou particularmente irritada. Para além da tendinite nos pulsos, que teima em não me dar tréguas, acordei com a voz de Valter Lemos. Haverá pior acordar que este? Depois li um jornal. Mais Valter Lemos acompanhado de Maria de Lurdes Rodrigues. Nas notícias da uma, mais Valter Lemos. Está a ser superior às minhas forças. Valter Lemos já é um desastre calado. A falar é de deixar os nervos em franja. Vou dormir a sesta para não ouvir mais nada.
    Falam eles do novo estatuto do aluno do ensino não superior. Outro desastre. Tanto batalharam contra a falta de assiduidade dos professores! Agora incentivam a dos alunos. É assim que se educa? Não deveriam os jovens aprender a marcar a sua presença diária no seu posto de trabalho - a escola? Considero uma atitude particularmente deseducativa.
    O facilitismo está na crista da onda. Isso lembrou-me uma crónica que escrevi, publicada em Outubro de 2004, e cujo título era "O Nijinsky escapou à licenciatura". Deixo aqui uns excertos dessa crónica para desabafo meu e para leitura de quem estiver interessado.
    "Perdi completamente o rasto de um colega de curso que tive nos preparatórios de Engenharia na Universidade de Coimbra. Era de ascendência russa e fomos dois bons amigos. Uma excelente pessoa e um óptimo colega. Na casa dos pais do Miguel tal como na dos meus, sempre houve gatos. Um dia ele ofereceu-me um gato siamês, puro, da última ninhada de uma das gatas lá de casa. O bichano já vinha baptizado – Nijinsky. Lembro-me da empregada dos meus pais ter comentado a propósito do nome do bicho: “Ó menina! Nem eu lá vou quanto mais o gato!”.
    ...
    Voltemos ao tempo em que o Nijinsky ficava horas no colo do meu pai. Foi quando o curso de Engenharia passou de seis para cinco anos e quando o ensino começou a descambar e o superior começou a proliferar pelo país. Já era de prever que acabaríamos por ter uma 'faculdade' rua sim, rua não, em cidades, vilas e aldeias, com qualidade cada vez mais duvidosa. “Se não me acautelo, um dia destes dão uma licenciatura ao Nijinsky” – costumava dizer o meu pai. Viu longe. O Nijinsky só não é hoje licenciado porque já morreu. Temos Faculdades e Institutos em tudo quanto é lugarejo, com tudo quanto é professor e, tantas vezes sem quaisquer critérios de qualidade. Só não é licenciado quem não quer. Saber algo depois de licenciado já é outra conversa que, pelos vistos, não preocupa os governantes. Quando uma pessoa tira uma licenciatura em Línguas e Literaturas e diz “Há-des trazer-me o livro”, “Comprastes o que te pedi?” ou “Fará-se o que se puder”, ainda vamos a tempo de fazer alguma coisa?
    ...
    Interessa quantidade. A qualidade é um requisito que já não conta neste país. É preciso licenciados. Muitos. Quanto mais não seja para o desemprego. “O modelo que propomos para Portugal tem em conta as necessidades do país e a situação nos outros países europeus”, disse Maria da Graça Carvalho. E o modelo é claro. Licenciaturas em três anos. Mestrados com mais dois. Ou seja, no mesmo tempo, ou menos, que demorava tirar um curso superior, hoje já se tem o mestrado. Com jeitinho, os meus netos vão sair doutorados com um semestre numa qualquer faculdade. Só me tranquiliza saber que a formação e a cultura não lhes vão faltar.
    ...
    Quando eu me formei, um professor de qualquer grau de ensino, um médico, um advogado, um juiz, um economista, um engenheiro, um político,… eram pessoas com categoria merecedoras de todo o respeito. Uma elite com nível, com valores e com valor. Gente responsável. Profissionais competentes cujo exemplo era de seguir. A massificação do ensino, o abandalhamento da política, a demissão dos pais enquanto educadores, a desvalorização do mérito conduziram-nos ao caos que vivemos hoje. Salvo raras e honrosas excepções, ninguém respeita ninguém porque ninguém se sabe dar ao respeito.
    Aqui há uns tempos, quando ainda tinha uma esperança de que o espírito orientador dos sindicatos fosse o bem do ensino, fui a um dos sindicatos de professores dos milhares que existem hoje. (Desconfio que há professores inscritos em vários sindicatos simultaneamente. Caso contrário, cada sindicato teria apenas meia dúzia de professores associados). Uma dirigente sindical contou-me que apareceu lá um professor para se tornar sócio. Tinha um curso médio tirado num qualquer Instituto duma cidade do Norte do país. A colega explicou-lhe que, embora lamentando, não podia associá-lo nesse sindicato porque só aceitavam licenciados por faculdades. “A mim têm de me aceitar. Tenho um mestrado em Artes em Verga” – disse o professor. Palavras para quê? É enorme o número de portugueses com mestrado em qualquer coisa. Não quer dizer que não haja mestrados sérios. Claro que há. Mas a banalização desse título, com qualidade duvidosa, retirou-lhe valor. Desacreditou-o. É melhor ter uma licenciatura “do antigamente” do que um mestrado de hoje. Como será daqui a uma dezena de anos?"