24 abril 2012

Poema do fecho-eclair

Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de oiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz. 

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente. 

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos. 

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça. 

Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco. 

Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo. 

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safiras, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer. 

O que ele não tinha
era um fecho-éclair.

António Gedeão

O Google lembrou-se hoje de Gideon Sundback, eu lembrei-me logo de António Gedeão

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