Na poesia de Sophia há vários conceitos-chave. O primeiro é, obviamente, o mar. Mas há mais. Um deles é a natureza. Este poema descreve uma paisagem que podíamos perfeitamente pintar.
Paisagem
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner
6 comentários:
Tenho pena de não ser tua aluna este ano. dava-me um gozo particular. Mas opções, são options. mas que tenho saudades vossas tenho. Beijinhos e boa sorte
Seu lirismo, fruto de uma invulgar sensibilidade feminina, semelha brotar das mesmas nascentes em que se abeberavam os poetas simbolistas e seus modernos continuadores. Sempre disposta a olhar dentro das coisas , sua intuição se avigora na razão direta das profundezas que alcança, mas jamais se intelectualiza ou se desfeminiza. Ao contrário, encantada pela aura mágica das coisas que contempla, seu universo poético abrange vastidões cósmicas, a principiar do mar, seu motivo preferido.
Cida
Um poema lindo onde os sentidos interagem!
Beijos.
Gaivota Maria
Nunca serias minha aluna mas está a ser interessante esta primeira parte sobre a Sophia.
beijos
Cida
Bonitas palavras. É isso mesmo.
mfc
Um dos muitos poemas lindos de Sophia.
Beijo
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