O Menino Grande
Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!,
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se eu riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
(Sebastião da Gama)
As meninas, que com dez anos entraram comigo para o Instituto de Odivelas e comigo viveram vinte e quatro horas por dia durante cinco anos, são hoje meninas grandes. Comigo brincaram, comigo estudaram, comigo sentiram a falta da casa, dos pais, dos irmãos.
A vida separou-nos mas em Dezembro reencontrámo-nos. Nem tudo se foi: ficou-nos,dos tempos de meninas, esta alegria ingénua perante as coisas novas e esta vontade de brincar. Ficou a amizade. Incólume.
Três delas vêm amanhã passar uns dias comigo. Vão abandonar o Sul para virem conhecer o meu Porto.
Vamos rir, saltar, riscar os muros ou quebrar algum vidro… Vamos (re)viver.