Olhei há pouco para lua e fui procurar se hoje era dia de Lua Cheia. não só vi que era como encontrei um artigo de Nuno Crato que achei interessante. Aqui o deixo.
A Lua Cheia e os partos
Ouve-se muitas vezes dizer que nas noites de Lua Cheia o número de partos aumenta. De tal forma, conta-se, que há clínicos que se preparam para noites agitadas quando se aproxima essa fase da Lua. A ideia está tão difundida que muitas pessoas a aceitam como um facto. E porque não? Se a Lua consegue mover oceanos, de maré-cheia a maré vazia, não poderá ter algum efeito sobre os ventres maternos?
Há um pequeno óbice, contudo. A Lua provoca duas marés por dia. Porque haveria de provocar uma maré de partos apenas na Lua Cheia, que acontece aproximadamente uma vez por mês? Ou seria o efeito de alinhamento com o Sol? Mas esse alinhamento tanto se regista na Lua Cheia como na Lua Nova. E apenas aumenta ligeiramente as marés. Além disso, o efeito de maré é menos poderoso do que se pensa. Claro que são massas grandes de água que se movem, mas no conjunto imenso de oceanos! Alguns metros que o nível das águas suba num porto é pouquíssimo comparado com o volume total em causa. As forças de maré são forças diferenciais, resultam da diferença de atracção sobre um corpo. No caso das marés oceânicas, resultam da diferença de poder de atracção em todo o planeta. O que são alguns metros de subida da água na escala da Terra?
O físico Robert Park, um dos directores da Sociedade de Física Americana (APS), deu-se ao trabalho de calcular os efeitos de maré sobre os seres humanos. No seu livro Ciência ou Vodu, editado entre nós pela Bizâncio, explica que a força de maré lunar sobre o nosso corpo é tão pequena que é menor que a provocada por uma maçã situada por cima da nossa cabeça. Mas ainda nunca alguém se lembrou de falar do efeito das macieiras sobre os partos.
O facto de não entendermos como um fenómeno pode ocorrer, contudo, não quer dizer que ele não ocorra. Por muito intrigante que possa ser o efeito da Lua, ele não se deverá desprezar se a experiência mostrar que existe. É por isso que vale a pena recorrer à Estatística.
Na base de dados de investigação clínica PubMed, os termos «births» e «moon» geram actualmente 11 artigos de investigação publicados nos últimos 25 anos sobre esse tema. O primeiro artigo, saído em 1979, analisa 11691 partos registados entre 1974 e 1978 em Los Angeles e conclui que «os nascimentos de forma alguma se correlacionam com os ciclos lunares». Dos restantes estudos, que analisam centenas de milhares de casos, seis apresentam resultados semelhantes. Analisam centenas de milhares de nascimentos e negam categoricamente que os ciclos lunares tenham alguma coisa a ver com os partos (Dinamarca 1989, Maputo 1991, Florença 1994, Noruega 1997, Nova Iorque 1998 e Carolina do Norte 2005).
Depois, há alguns estudos curiosos. Um deles incide sobre nascimentos chineses (1991) e encontra alguma sazonalidade relacionada com o ciclo da Lua. Mas o calendário chinês é lunar e há uma enchente de casamentos nas festividades lunares...
Outro, feito numa pequena cidade brasileira (2002) é inconclusivo. Os dois restantes (França 1986 e Nova Iorque 1991) indiciam alguma possível correlação, mas apenas com uma ligeiríssima subida de nascimentos antes da... Lua Nova!
Tudo isto é muito curioso. Os estudos científicos negam a influência do ciclo lunar ou quando vêem uma coincidência estatística de subida de partos verificam que ela é pequena e se regista na aproximação da Lua Nova. Porque se difundiu então o mito da fertilidade da Lua Cheia?
Os mitos têm razões que a razão desconhece.
Ouve-se muitas vezes dizer que nas noites de Lua Cheia o número de partos aumenta. De tal forma, conta-se, que há clínicos que se preparam para noites agitadas quando se aproxima essa fase da Lua. A ideia está tão difundida que muitas pessoas a aceitam como um facto. E porque não? Se a Lua consegue mover oceanos, de maré-cheia a maré vazia, não poderá ter algum efeito sobre os ventres maternos?
Há um pequeno óbice, contudo. A Lua provoca duas marés por dia. Porque haveria de provocar uma maré de partos apenas na Lua Cheia, que acontece aproximadamente uma vez por mês? Ou seria o efeito de alinhamento com o Sol? Mas esse alinhamento tanto se regista na Lua Cheia como na Lua Nova. E apenas aumenta ligeiramente as marés. Além disso, o efeito de maré é menos poderoso do que se pensa. Claro que são massas grandes de água que se movem, mas no conjunto imenso de oceanos! Alguns metros que o nível das águas suba num porto é pouquíssimo comparado com o volume total em causa. As forças de maré são forças diferenciais, resultam da diferença de atracção sobre um corpo. No caso das marés oceânicas, resultam da diferença de poder de atracção em todo o planeta. O que são alguns metros de subida da água na escala da Terra?
O físico Robert Park, um dos directores da Sociedade de Física Americana (APS), deu-se ao trabalho de calcular os efeitos de maré sobre os seres humanos. No seu livro Ciência ou Vodu, editado entre nós pela Bizâncio, explica que a força de maré lunar sobre o nosso corpo é tão pequena que é menor que a provocada por uma maçã situada por cima da nossa cabeça. Mas ainda nunca alguém se lembrou de falar do efeito das macieiras sobre os partos.
O facto de não entendermos como um fenómeno pode ocorrer, contudo, não quer dizer que ele não ocorra. Por muito intrigante que possa ser o efeito da Lua, ele não se deverá desprezar se a experiência mostrar que existe. É por isso que vale a pena recorrer à Estatística.
Na base de dados de investigação clínica PubMed, os termos «births» e «moon» geram actualmente 11 artigos de investigação publicados nos últimos 25 anos sobre esse tema. O primeiro artigo, saído em 1979, analisa 11691 partos registados entre 1974 e 1978 em Los Angeles e conclui que «os nascimentos de forma alguma se correlacionam com os ciclos lunares». Dos restantes estudos, que analisam centenas de milhares de casos, seis apresentam resultados semelhantes. Analisam centenas de milhares de nascimentos e negam categoricamente que os ciclos lunares tenham alguma coisa a ver com os partos (Dinamarca 1989, Maputo 1991, Florença 1994, Noruega 1997, Nova Iorque 1998 e Carolina do Norte 2005).
Depois, há alguns estudos curiosos. Um deles incide sobre nascimentos chineses (1991) e encontra alguma sazonalidade relacionada com o ciclo da Lua. Mas o calendário chinês é lunar e há uma enchente de casamentos nas festividades lunares...
Outro, feito numa pequena cidade brasileira (2002) é inconclusivo. Os dois restantes (França 1986 e Nova Iorque 1991) indiciam alguma possível correlação, mas apenas com uma ligeiríssima subida de nascimentos antes da... Lua Nova!
Tudo isto é muito curioso. Os estudos científicos negam a influência do ciclo lunar ou quando vêem uma coincidência estatística de subida de partos verificam que ela é pequena e se regista na aproximação da Lua Nova. Porque se difundiu então o mito da fertilidade da Lua Cheia?
Os mitos têm razões que a razão desconhece.
8 comentários:
Que lindo olhar o teu!
Beijinhos
:))
Que rápida, mdsol
Eu a publicar e tu a comentar. Estás on-line, heim?!
beijinho
Que pena que no jantar de Julho não tenhas feito fotos da lua vista a partir do alto da sede. Vice-presidente teve que aguentar o lugar à mesa. Secretária teve direito a jantar ao luar com música.
Para a próxima troco contigo. Bom fim de semana
Gostei de ter lido.
Como gostei de te ter visto hoje, ainda que pouco tempo.
Beijinhos
Sou um céptico... generalista!
Nessa medida fico sempre feliz quando vejo um mito desmontado.
Obrigado pelo texto.
gaivota maria
Fico à espera dessa troca...
beijinho
tinta azul
Apesar de muito curto, foi bonito o nosso encontro.
Enquanto espero o próximo, deixo um beijo
mfc
Achei o texto giro...
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