Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns,
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!
António Gedeão
1 comentário:
Tem graça eu ter acabado de acabar um texto sobre este homem que tão bem soube ver e contar as diferenças. As do olhar e as outras. Aqui fica um sentimento dele que, entre outras coisas, abre portas para questionarmos o que tomamos como certo: Escrever poemas foi sempre para mim um estado de angústia, um sofrimento autêntico. Amorteci todo esse sofrimento durante anos até ao dia em que, por motivos dolorosos me desfiz dele por completo na ingénua presunção de que me atrapalhava. Após eles… tive uma trágica conversa comigo mesmo, a sós, e resolvi nascer de novo.
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