17 setembro 2007

Soneto LV

Nos meus trabalhos (que nunca mais acabam...) com os livros que foram do meu Pai, encontrei três tomos encadernados, pequeninos (7,0 cm x9,7 cm) de 1828 com a Obra Poética de Nicolao Tolentino de Almeida. Abri o tomo I ao acaso e saiu-me este poema delicioso ao qual, obviamente, não alterei a ortografia, e que partilho com todos.

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a Mãi ordena.
Que o furtado colxão, fofo, e de penna,
A Filha o ponha alli, ou a Criada.

A Filha, Moça esbelta, e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz, que o ar serena:
"Sumio-se-lhe hum colxão, he forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada"

"Tu respondes-me assim? tu zombas disto?
Tu cuidas, que por ter Pai embarcado,
Já a Mái não tem mãos?" E dizendo isto,

Arremette-lhe á cara, e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sahe-lhe o colxão de dentro do toucado.

4 comentários:

Anónimo disse...

Vou ser franco! Detesto poemas onde o poeta rima por uso de formas verbais, especialmente particípios e infinitivos...

devaneiosaovento disse...

GP, estou encantada com seu achado de 1828!
e agradeço pelo prazer em aqui estar, e poder ler algo tão belo.
abraços e aproveito para desejar-te uma boa semana.

GP disse...

mp
Sabes como eu aprecio a franqueza. Obrigada por ela.
Mas eu gostei do poema. Achei a história de 1828 bem apanhada...

Beijinho

GP disse...

edna
O prazer é meu em te receber aqui. Encontrei um monte de relíquias graças ao mau Pai.

Beijinho