17 abril 2008

17 de Abril de 1969

Foi na inauguração deste edifício, que no dia 17 de Abril de 1969, começou a crise estudantil de Coimbra.

Foi à entrada deste edifício que o meu Pai, médico militar, que era uma das individualidades convidadas para a inauguração por ser, na altura, a mais alta individualidade dos Serviços de Saúde Militar de Coimbra, foi enxovalhado, chamado de “palhaço”, “fantoche” e possivelmente outros nomes bem piores. Na sequência desse incidente, o Presidente da Associação Académica, Alberto Martins, foi preso e eu defendi-o perante o meu Pai. Era tão ingénua que acreditei que aquele movimento não era político e que o que estava em causa era a defesa do ensino superior. O meu Pai bem me avisou mas a minha rebeldia de jovem universitária falou mais alto. Hoje tenho a dito senhor no Governo. Se arrependimento matasse…
D. Dinis assistiu a tudo imóvel, petrificado.

Foram maus momentos que se viveram em casa dos meus Pais, com as três filhas mais velhas na Faculdade. Tempos para esquecer que eu lembro hoje aqui por fazer 39 anos que este episódio, que fica na nossa história, aconteceu.

“Na manhã de 17 de Abril de 1969, em frente ao Edifício das Matemáticas, milhares de estudantes mostravam palavras de ordem “Ensino para todos”, “Estudantes no Governo da Universidade”, “Exigimos diálogo”.No interior do Edifício, Alberto Martins, Presidente da DG/AAC pede a palavra ao Presidente da República, Américo Tomás “Sua Ex.ª, Senhor Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?” A palavra foi-lhe negada e a cerimónia terminada abruptamente.”
Para ver toda versão da AAC clique aqui.

11 comentários:

mdsol disse...

Linda GP
Há situações dilemáticas (?) que não são nada fáceis. Contudo, estiveste na história... e isso não é motivo de arrependimento. Mais, foste generosa e encheste-te de esperança... Mas não eras uma jovem menina? Estavas a ser tu e o teu tempo...
(só uma coisita sem importância... o A. Martins jé esteve no governo, mas não fez parte deste)
Um beijinho

GP disse...

mariadosol
Tens razão. Ele esteve no Governo e agora é o presidente da bancada parlamentar do PS. Tudo a mesma palhaçada...
Foram tempos horríveis em casa. O meu Pai ameaçou que atirava sobre qualquer colega que fosse lá a casa incentivar-nos à greve. O meu Pai andava mesmo perturbado com toda aquela cena. Havia piquetes de greve que é uma coisa que ainda hoje não entendo. A meu ver, a liberdade deve ser usada para cada um agir de acordo com a sua consciência, fazer ou não greve.
Um dia fui com uma das minhas irmãs pôr uma carta da minha Mãe no correio e, ao descermos a Rua Lourenço de Almeida Azevedo, deparámos com a polícia de choque, a cavalo, a subir a dita rua. Tocámos à primeira campainha e pedimos para nos deixarem entrar. De lá telefonámos para casa e, mais tarde, o meu Pai foi lá buscar-nos de carro.
Tempos maus que foram um dos rastilhos para os que vivo hoje que não são tempos melhores...

Beijinho e desculpa esta arrazoado todo mas apeteceu-me exteriorizar estes fantasmas.

mdsol disse...

GP
Não há nada para pedir desculpa. Sabes, tenho um primo afastado que estava nessa altura por lá, e segundo consta (não garanto, não vi ...) o pai abalançou-se até à Lusa Atenas e ameaçou-o com o "objecto que atira" não fosse ele dar-se à veleidade de fazer greve. Segundo consta, ainda, cumpridas as "ordens" paternas... o soslaio foi o modo como passou a ser olhado...

GP disse...

Poi é, mariadosol, houve muitos problemas em muitas famílias naquela altura.

beijinho e bom fim de semana

Ka disse...

Graça

Esero que o teu fim-de-semana esteja a correr bem. Vou ver se amanhã de manhã te consigo ligar. Mesmo que não consiga fica aqui um beijinho :)

Anónimo disse...

A história tem, por vezes (muitas!), estórias incompreensíveis e evitáveis. Tenho casos algo parecidos na família e sei bem o efeito que tiveram.

Beijinho

GP disse...

ka
O tempo não nos dá uma ajudinha...
Vamos a ver quando é que nos conseguimos encontrar.

Beijinho

GP disse...

lb
Foram tempos difíceis que só me trouxeram problemas mas a história é assim... não se apaga...

beijinho

seixomirense disse...

Ja estou mais elucidado, mas gostava de saber se alguém morreu nos confrontos.

GP disse...

seixomirense
É bom ver jovens interessados nestes episódios que fazem parte da nossa História e que os mais velhos, que os viveram, podem contar.
Nos confrontos não morreu ninguém. Felizmente. Mas passei dias de muito medo.

Um abraço

Gaivota Maria disse...

Parece que a ideia te pôs a cabeça no sítio. Beijinho