02 abril 2008

Peço desculpa

Hoje lembrei-me das palavras que um Senhor, A.S.S. de Espinho, escreveu num jornal diário em 2001. Porque as subscrevo e porque se mantêm actuais, aqui as deixo. O título era exctamente o que aqui coloco.

"Peço desculpa por ser um cidadão normal, cumpridor e respeitador das leis e dos costumes. Não sou homossexual, transsexual, bissexual, prostituto ou marginal. Não pratico sexo de risco e (também) por isso não tenho sida. Não fumo charros, não me injecto e não necessito de frequentar clínicas de recuperação de drogados e dar cabo de mim, da minha família e do mundo que conheço. Ando devagar, sempre de cinto colocado, paro nos semáforos e não acelero no amarelo, nem me atiro sobre quem passa nas passadeiras. Bebo apenas o álcool que posso suportar com absoluta lucidez, não fumo, a não ser por brincadeira, não tomo antidepressivos, anabolizantes, euforizantes ou afins. Pago a totalidade dos meus impostos, respeito o princípio da autoridade e a própria, embora me apetecesse torcer o pescoço de alguns agentes da dita, e cumpro as decisões de quem dependo profissionalmente, mas às vezes não me apetecia.
Sou casado, tenho dois filhos e uma família funcional e feliz. Amo os meus pais e sinto que lhes devo quase tudo o que sou. E tento aceitar os outros como são, embora, por vezes isso seja difícil, doloroso e penoso.
Não pratico crimes de qualquer natureza, e muito menos de colarinho branco. Nunca passei facturas falsas nem nunca utilizei o dinheiro de outros em meu proveito. Não me meto em, nem armo, confusões ou desacatos em público ou em privado, sou conciliador e acredito nas virtudes da razão.
Nunca fiz uma viagem fantasma, e, as poucas que fiz, paguei-as do meu bolso. Exerço sempre o meu dever cívico de votar e finjo acreditar que isso mudará algo. Nunca participei num desses concursos imbecis da televisão, nem vegetei na “casa mais conhecida do país”.
Nem sempre tenho razão e engano-me muitas vezes… E tento ler (muito), embora seja selectivo nas leituras que faço. E quero valorizar-me e aprender um pouco mais e melhor que o que me ensina a insuportável indigência intelectual e moral que se vê, que se sente e que se respira todos os dias e por todo o lado.
Sinto-me quase sozinho, mas sei que o não estou. Entretanto, peço desculpa pelo que sou."

4 comentários:

Ka disse...

Pois...de facto está actual e se bem que não a subscreva por inteiro, faria uns leves retoques e teria a minha assinatura !

Beijos Graça

GP disse...

ka
Passaram 7 anos e estas palavras mantêm-se actuais. Isso significa alguma coisa... e nada de bom...

Beijinho

Dani (ela) disse...

e nós então querida G.P., como educadoras e mantenedoras da ética e moral... devemos pedir quantas desculpas?

vim de lá de baixo me deliciando com suas fotos. lindas como sempre.

:-)

GP disse...

Olá, dani(ela)!
Gostei muito da tua visita. Não sei quantas vezes teremos de pedir desculpa... O nosso papel é estremamente ingrato, desgastante e muito pouco reconhecido.
Vamos continuar a nossa luta mas a motivação não ajuda nada.

beijinho